Americanah

Julia Duarte
2 min readAug 10, 2018

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Não foi difícil gostar de Americanah. Chimamanda tem um jeito muito especial de envolver o leitor na história, de forma que parece que tudo aconteceu com um amigo muito próximo. A experiência foi tão intensa para mim que cheguei a sonhar várias noites seguidas com os acontecimentos do livro e com a atmosfera do ambiente descrito. Fui à Nigéria, à Londres dos imigrantes e comecei a entender um pouco mais o racismo nos Estados Unidos.

Não li ainda muitos autores africanos e meu entendimento sobre suas nacionalidades ainda estão engatinhando. Mas uma coisa é certa: ao ler a descrição da cidade de Lagos, do interior do país e de as suas especificidades culturais, tive vontade de embarcar no primeiro voo para a Nigéria. Conheci um universo completamente novo e, ao mesmo tempo, familiar. Lá, do outro lado do Atlântico, há pessoas que trabalham, estudam e tentam melhorar de alguma forma a vida em sua sociedade. Infelizmente a corrupção é algo forte e parece ser o grande mal para um desenvolvimento saudável de todo o planeta…

Me identifiquei especialmente com a visão terceiromundista de Ifemelu e Obinze sobre a vida na Europa e na América. Essa tal “síndrome de viralata”, como chamamos no Brasil, que almeja nos países colonizadores uma vida mais civilizada e justa. Porém, o choque de realidade ao chegar lá, em muitos casos, é bem diferente do esperado. Há casos de pessoas bem educadas e pertencentes à classe intelectual do seu país se veem humilhadas e totalmente menosprezadas. Chimamanda abriu meus olhos e mostrou como fingimos o tempo todo sermos iguais aos nossos colonizadores e até aceitamos sermos julgados como inferiores quando estamos por lá ou quando comparados a algum nativo de lá. Nossa cegueira, que estimula nossa baixa autoestima, alimenta uma realidade inventada que vai continuar existindo enquanto não a transformarmos definitivamente.

Além disso, a questão do preconceito racial é muito bem trabalhada no livro. O preconceito é um julgamento superficial e coloca toda uma parcela de seres humanos heterogêneos simplesmente como iguais. Ifemelu diz mais de uma vez que só se descobriu negra quando chegou aos Estados Unidos. Antes disso ela era um ser humano, uma mulher, uma estudante que buscava uma vida melhor do que a que seus pais lhe proporcionaram. Os preconceitos sociais sempre foram presentes em sua vida. Ela sabia quem era pobre, rico, corrupto, culto ou vulgar. Mesmo assim, sempre esteve um lugar privilegiado. Até ser uma imigrante.

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Julia Duarte

Multitasking project manager, bookworm, and amateur triathlete.